domingo, 4 de setembro de 2011

Direitos de autor



Quando se fala em direitos de autor, quer seja nos artigos da lei, nos artigos de jornal ou nos artigos de opinião como os blogs, regra geral fala-se de dinheiro.
Fala-se dos proventos, pagamentos e dividendos em dinheiro ou espécie que os diversos intervenientes - autores, representantes, herdeiros ou divulgadores – assumem ter sobre a obra criada.
Textos ou música, coreografia ou realização cinematográfica, obra plástica portátil ou inamovível.
Todos estes resultados de uma actividade intelectual e artesanal ou artística que se manifesta de uma forma material e permanente ou imaterial e efémera são objecto de posse.
E de cobiça!
A pirataria (cópia ilegal, plágio, roubo, etc…) são consequência do desejo de se possuir algo a que se atribui valor (afectivo, estético, material...).
As regras e as leis existentes defendem o direito do autor sobre a autoria da obra, reservando-lhe os lucros da sua comercialização ou transacção.

Mas há outro aspecto, tão ou mais importante, sobre a autoria que, regra geral, é negligenciado: a obra em si mesma.
A facilidade da reprodução actual (de textos, fotografias ou pinturas, música ou cinema) faz com que se copie de uma forma indiscriminada, usando o trabalho original a seu bel-prazer. Muitas vezes truncando-o inserindo-o noutro contexto, “abusando” da obra original a tal ponto que o próprio autor teria dificuldade em reconhecê-la. É uma das características da sociedade tecnológica e de informação em que vivemos.

E se há uma forma de arte ou de expressão que fica a perder com estes processos é o cinema!
Quando um realizador concebe uma cena ou filme, em que a marcação de actores, banda sonora, tamanho e sequência de imagens, cenários e cores, está a conceber para um dado suporte final. As mais das vezes, a tela grande de uma sala de cinema.
Ao transformar esse trabalho, ainda que legitimamente pago, num suporte de consumo doméstico, boa parte do trabalho vai-se pelo cano abaixo.

Só para dar alguns exemplos:
A grandiosidade da nave alienígena em “Encontros imediatos do 3º grau”, ao descer naquele terreno, perde-se por completo se, no lugar de ser vista numa tela de 10 metros, o for num ecran com uns míseros 60 centímetros;
Os voos solitários sobre as montanhas e oceanos em “Fernão Capelo Gaivota” transformam-se em imagens monótonas e entediantes;
O trepidar do assento em “Terramoto”, desaparece, reduzindo o audiovisual a pouco mais que uma reportagem de um qualquer telejornal.

Não é à-toa que existe o conceito e a especialização em “tele-filme”. Som, imagem, acção, tudo é concebido para o pequeno ecran. Nas dimensões existentes e nas condições da sala: luminosidade, ruído ambiente, distancia de observação, interrupções fortuitas…

Vem tudo isto a propósito dos canais temáticos de TV sobre cinema e sobre os clubes de vídeo e lojas de venda – fita ou DVD.
Lucram os distribuidores, com o aumento da facturação; lucram as estações de TV, com o aumento das audiências e da publicidade; lucram as lojas com as vendas ou aluguer…
Mas perdem os autores, que vêem as suas obras apreciadas em condições que degradam, para não dizer aviltam, o trabalho original; perdem os clientes, que compram lebre e levam lebre, mas compare-se a lebre de caça com a lebre de aviário!

Uma comparação, talvez fácil, é sobre a “Gioconda”. Dificilmente haverá alguém, na sociedade ocidental actual, que não tenha visto uma reprodução: nos jornais ou revistas, em livros, em calendários, na web…
Mas a quem a tenha visto ao vivo, no museu, só poderá concordar comigo.
Ou a capela Sistina; ou o “Nascimento de uma nação”; ou a 5ª de Beethoven; ou “As bodas de Fígaro”…

Dir-me-ão alguns que o cinema em casa é prático, cómodo e economizador de tempo e dinheiro. Também o é o “fast food” ou uma grande chávena de café em jejum depois de uma noite de três horas de sono.
É uma questão de quantidade versus qualidade!
É uma questão do rumo que a sociedade está a tomar!


Texto: by me
Imagem: edit from the web

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