quinta-feira, 23 de junho de 2011

... e tive medo!



Logo após a revolução de ’74 aconteceu aquilo que acontece a seguir a todas as revoluções: a caça às bruxas.
Havia que expurgar o país dos pides, dos bufos, dos fascistas, dos colaboradores com o regime.
É assim que surgem, um pouco por todo o lado, comités ou assembleias onde se denunciam os ditos com o claro objectivo de os despedir ou afastar de onde actuavam e o não tão claro objectivo de os fazer substituir pelo poder de bases emergente. Eram eles acusados a dedo e o veredicto decidido de votação pública e de braço no ar.
Acontece porém que nem em todos os lados havia gente para afastar. Serviços ou empresas, pelo menos àquela data, não tinham gente conhecida por pertencer ao regime deposto. E isso era uma contrariedade para os que queriam assumir o novo poder que não via democracia.
Aconteceu (e isto foi-me contado por quem o testemunhou) que se se o resultado da “votação” não era maioritariamente o de condenação, somavam-se os votos condenatórios com as abstenções para que o número resultante coincidisse com os desejos pardos de quem estava a querer tomar as rédeas da sociedade.
Nalguns locais conseguiram os seus intentos, noutros, gente houve que se apercebeu da manobra e a denunciou na hora. E também para esses houve tentativas de processos sumários.

Passados que são todos estes anos, eis que reconheço manobras equivalentes:
Oiço Durão Barroso, num discurso na União Europeia ou parecido, a dizer que 85% dos Portugueses tinham votado favoravelmente o plano de apoio económico a Portugal.
Surpreendido com este número, questionei quem sabe destas coisas e, por sinal, até é do mesmo quadrante político. A resposta deixou-me de boca aberta:
“É a soma dos votos do PP mais o PSD mais o PS, os partidos que assinaram o acordo com a Troica”
Como é que é????
Para já, e consultado o site do ministério da justiça, a soma das percentagens de cada um desses partidos é de quase 79% e não os tais 85%. Mentira clara sobre o resultado eleitoral.
Mas, e mais grave ainda, fora o número o certo, é que não foram 85% dos Portugueses que votaram nestes três partidos. Feitas as contas da soma dos votos obtidos pelos três partidos, certo é que resulta em que apenas 45% dos eleitores inscritos neles votaram.
Ou seja: menos de metade dos cidadãos portugueses no seu todo escolheram dar o seu sim aos partidos que assinaram esse tal acordo.

Olhando para estes números, senti-me recuar a um tempo estranho com práticas nem sempre as mais honestas.

By me

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