quinta-feira, 5 de maio de 2011

Uma questão de cor e credibilidade



Usamos cores e os seus significados sem que, as mais das vezes, sabermos como surgiram e assumiram as funções que têm na sociedade.
Um dos “erros” ou alteração entre as cores que usamos e as cores que vemos encontra-se na forma como representamos a água.
Damos a este líquido, ao representarmo-lo, a cor azul. No entanto, e excepção feita às zonas ditas paradisíacas, não vemos a água azul. Ou bem que é incolor (o seu verdadeiro aspecto) ou então assume as cores dos materiais em suspensão: acastanhado ou pardacento, caso transporte lamas ou areias, ou esverdeado, devido aos vegetais. Agora azul…
Então, de onde virá o tom azul que damos à água?
De acordo com Michel Pastoureau, no seu interessantíssimo “Dicionário das cores do nosso tempo”, o verde era cor habitual na representação da água até que a cartografia e a descoberta de novos mundos obrigou a alterar os códigos.
A necessidade de diferenciar florestas e cursos de água levou a esta mudança de códigos. Até ao séc. XIV os mapas baseavam-se em pouco mais que traços com os contornos das costas, as referencias a cidades e fortificações e indicação da orografia e estradas. A existência de manchas florestais e cursos de água pouco conhecidos nas Áfricas e Américas, tanto para que os navegadores soubessem onde se abastecer como para que os exploradores pudessem ter um panorama do que os esperaria ao avançarem em território desconhecido, implicou novos códigos de cor.
É assim que usamos cores que, na realidade, não correspondem à verdade.
Aliás, usamos e dizemos tantas coisas que não correspondem à verdade que, mais tom, menos tom, pouca diferença faz.

By me

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