sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um livro



Há vários motivos para comprar um livro:
O autor e a sua obra é-nos conhecido e queremos continuar o prazer de o ler;
Alguém a quem damos credibilidade nos recomendou a obra ou o autor;
Numa livraria, um qualquer impulso desconhecido nos levou a pegar naquele em particular, e não o do lado;
O assunto em particular nos interessa – livro técnico, ensaio, prático…;
Há algum tempo fui comprar um livro porque tive oportunidade de conhecer o seu autor, lá no Jardim da Estrela onde passei uns bons três anos, e fiquei curioso de saber o que aquela personalidade apaixonante tinha para nos contar: Antonio Skármeta.

Desta feita foi um pouco diferente.
Conheço o autor, pelo menos um dos autores. Não o seu trabalho enquanto escritor, mas tão só pessoal e profissionalmente. E fiquei curioso de saber o que aquela pessoa escreve, fora do quotidiano e do stress laboral.
Procurei-o, pedi-o na livraria, recusei o respectivo saco de plástico e coloquei-o na minha mochila.
À noite, ao jantar num restaurante conhecido aqui da minha freguesia, tirei-o do saco e posei-o em cima da mesa. Tive que afastar todas aquelas coisas que eles colocam em cima da toalha para que não pareça vazia, mas ali ficou.
E ficou. E ficou. E ficou. Que não tive coragem em o abrir e estrear.
Um restaurante conhecido é um bom local para escrever ou ler, quando estamos sós com o repasto: a refeição, os empregados, e até os comensais são-nos conhecidos, mesmo que não interajamos com eles. Permite-nos uma boa dose de intimidade e solidão, conduzindo-nos, caso o queiramos, para a actividade extra ao comer. É assim como que jantar connosco mesmo ou com o autor das linhas que connosco dialoga.
Mas, desta vez, acabei por jantar sozinho. O meu interlocutor esteve ali, à mesa, o tempo todo, mas não lhe dei oportunidade de comigo falar. Até agora.
Ainda estou para saber se, de facto, quero conhecer aquela pessoa do outro lado da actividade profissional. Se quero ler as suas palavras e conseguir esquecer as que lhe oiço de viva voz. Se conseguirei, depois de partilhar estes seus escritos, ver da mesma forma o que faz à margem do que escreve.
Sei que sou teimoso e que dificilmente resisto a um livro. E que, mais cedo ou mais tarde (talvez mais cedo) acabarei por o ler.
Mas, até lá, ficará este interessante suspense, não do livro, mas em torno do livro.
Coisas…!

Texto e imagem: by me

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