sexta-feira, 15 de abril de 2011

Inocências



Eu estava à porta do café, fazendo aquilo que não posso fazer lá dentro: fumar um cigarro depois da bica matinal.
Ela passou, de mão dada com a mãe, que na outra mão levava a irmã mais velha.
Quando os seus olhos caíram em mim, abriram-se quais faróis de nevoeiro, quase saltando para além dos óculos de hastes coloridas que usava. E foi-se afastando, meio tropeçando, sempre com o nariz, e olhos, pregados em mim.
Pisquei-lhe o olho, como faço a catraios e catraias nestas circunstâncias, e regressei à minha nicotina volátil.
Passados momentos, hei-la de volta, de mão dada na mesma. Suponho que a mãe não terá gostado do café a seguir e decidiu-se pelo meu. Subiram os degraus as três, ela sempre de olhar em mim. Mais que faróis, os seus olhos quase pareciam mós de moinhos.
Instantes depois, oiço uma vozinha infantil, que suponho a sua, a perguntar lá dentro:
“Oh mãe! Porque é que o Pai Natal está vestido assim?”
Quase que me engasguei! Pus em evidência a câmara que trazia no ombro, desci para a rua e afastei-me, deixando à mãe a tarefa de explicar o porquê dos trajes ou o porquê das barbas.

Suponho que não estivessem à espera que aqui mostrasse uma fotografia da garotinha que ainda acredita no Pai Natal, pelo que vos deixo uma imagem igualmente bucólica e inocente.


Texto e imagem: by me

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