segunda-feira, 7 de março de 2011

Dá-me azar



Eu tenho um certo azar a este meu vizinho.
Não que ele alguma vez me tenha feito algum mal directamente. Não fez! Aliás, estou em crer que com ele troquei uma meia dúzia de palavras, se tanto, ao longo do último ano, que desde quando o conheço.
Mas tenho-lhe algum azar, que querem.
O homem é cortês, simpático, metido consigo ou reservado, a ponto de nunca o ter visto a falar com quem quer que fosse sem que lhe tivessem dirigido primeiro a palavra.
Conheço-o aqui do bairro, mas não sei ao certo onde mora. Aliás, nem desconfio que fará na vida já que, e a menos que tenha um ofício com horários tão malucos quantos os meus, encontro-o a qualquer hora do dia.
E encontro-o sempre assim, em passo acelerado, quase que de corrida, em trajectos mais ou menos definidos e com objectivos bem delineados.
E que faz ele, nesse seu deambular pelo bairro? Nada demais ou de mal, excepto que me dá azar.
Algo lhe terá acontecido na vida, em muito novo ou recentemente, que o leva a percorrer o bairro, de contentor de lixo em contentor de lixo, recolhendo os resíduos deixados no chão e deitando-os nos respectivos caixotes. Aliás, faz por o fazer de acordo com as mais elementares regras ecológicas, usando os eco-pontos para os colocar devidamente.
E, em deixando limpa a zona envolvente, asfalto, calçada e relvado, se o houver, parte para o ponto seguinte onde irá fazer o mesmo.
A única mudança de comportamento que lhe vi foi, há uns meses, que passou a usar este colete reflector atado à cintura. Sempre ali.
E ainda não consegui chegar à fala com ele para lhe fazer um retrato digno desse nome. O mais que consegui foi isto, e à surrelfa.
Agora: porque me dá ele azar?
Porque me apercebi que é ele quem tem feito desaparecer os sapatos que tenho vindo a fotografar aqui no bairro, tornando muito mais raro o seu encontrar. Eu não os procuro. Mas nos meus caminhos habituais, desapareceram por completo. E tem sido ele que, em os vendo na rua e sabendo-os como lixo, os vai colocar nos contentores.
Termos todos que lhe agradecer o ele ir corrigindo o desleixo dos meus concidadãos, ainda que creia eu que algo de errado com ele acontece.
Mas bem que podia ir deixando os sapatos cá fora para eu bater umas chapas, que diabo.


Texto e imagem: by me

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