terça-feira, 8 de março de 2011

A borrasca



Quando ontem saí de casa, cedo, o dia não estava bonito nem feio: apenas um dia de Março, com nuvens mas nada de mais.
Enfiei-me debaixo de telha toda a manhã e o início da tarde e, por aquilo que ia podendo ver p’la janela, o São Pedro ia mantendo a atitude tolerante para com quem andasse na rua.
Mas quando saí de onde estava em direcção ao trabalho, aquilo que me põe o pão em cima da mesa, São Pedro não deve ter gostado:
Choveu, trovejou, granizou até parecer que a calçada fervia!
Era ver os transeuntes encolhidos nas soleiras das portas, encostados às paredes ou correndo em busca de uma qualquer casa comercial que estivesse aberta e que tivesse a caridade de recolher por uns momentos as incautas vítimas.
Por mim, entrei num café, já pertinho da estação e reforcei o nível de cafeína no sangue, sacudindo do boné, do cabelo e da barba o que ainda restava dos pedaços de gelo celestes.
Mas o tempo urgia e os comboios não se compadecem com o clima (nem os relógios de ponto, já agora!) Atravessei a rua, fustigado com a ira dos deuses e entrei na estação. Passei p’las cancelas e subi ao cais. Pensava eu que, chegando-me para um dos lados, sempre ficaria protegido até à composição seguinte, a minha. Como estava enganado!
Em sabendo-me abrigado, São Pedro mudou de ideias e foi descarregar as suas frustrações carnavalescas para outro lado, quiçá para um corso, e poupou-nos a mais agressões.
Restou este céu pesado, já não riscado por magníficos relâmpagos, e a certeza de que seria eu, azarado como ando, que tinha provocado a borrasca. Que se tivesse vindo para a rua mais cedo, ou mais tarde, seria então que ela se haveria de manifestar.
De vingança, fotografei-o!

Texto e imagem: by me

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