sábado, 29 de janeiro de 2011

Obrigado



O que é um pequeno nada que chateia? São vários e acredito que cada um terá os seus de estimação.
Não penso que quem os pratica o faça por mal. Seria impensável que tanta gente por esse mundo fora se desse ao trabalho de tanta coisa fazer só para chatear a pessoa do lado, em regra um ilustre desconhecido.
A prática destes pequenos nada apenas demonstra como tanta gente se preocupa tão pouco com todos os outros fora do seu minúsculo mundo.

Um exemplo:
Caminhando numa rua, ao ar livre ou numa pseudo rua de um centro comercial, vai um grupo de amigos. Digamos que uns quatro ou cinco, para não o fazer muito grande, e que podem ter algures entre os quinze e os sessenta e cinco anos.
Pois é certo e sabido que, se estiverem bem-dispostos e à conversa, ocuparão toda a largura do passeio ou rua. Também é garantido que, nuns 80% dos casos, se se cruzarem com alguém em sentido oposto não se desviarão, ficando na expectativa se o outro sairá da frente. A menos que esse outro estaque em frente do grupo e aguarde uma aberta, e nem sempre com a melhor das expressões.
Outro exemplo:
Numa cantina ou restaurante de self-service, os tabuleiros depois de usados são colocados em carrinhos a isso destinados. Com calhas para receberem dois tabuleiros cada uma. Pois é certo e sabido que, nuns 80% dos casos, os tabuleiros são deixados logo à entrada das calhas, ficando a bloquear o acesso de quem queira nela deixar o seu, a menos que o empurre. Mas como para tal haverá que libertar uma das mãos que segura o tabuleiro, acaba por ser uma tarefa ingrata e de pontaria.
Como estes dois, muitos outros pequenos nada se podem encontra ao longo de um só dia, que demonstram o quanto cada um ignora ou menospreza o seu semelhante.
Quando acontece ser confrontado com um desses pequenos nada, as mais das vezes limito-me a constatá-lo e ao desagrado que sinto. Mas nem sempre!
Não partindo para a violência, física ou verbal, atiro para o ar um sonoro “Obrigado!”. Que a alternativa seria uma palavra feia, que não digo e aqui não me atrevo a escrever.
Metade dos visados não ouve, finge que não ouve ou nem percebe que é consigo;
Dos restantes, quatro quintos olham para trás, com ar desconcertado, e seguem a sua vida como se entendessem que seria uma afronta emendar a mão;
Sobra um número diminuto de gente que se apercebe da situação, seja ela qual for, pede desculpa e tenta corrigir o incómodo provocado, se tal for possível.
Para esses, sobra o meu sorriso e deles recebo um sorriso de volta.
E o mundo continua a girar, sorridentemente, já que não passou de um pequeno nada.


Texto e imagem: by me

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