terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O operário que nada tem...



Foi há já uns anos, lá, onde trabalho.
Estivemos de greve. Três dias de greve. Por questões salariais, por condições de trabalho, por limpas e honestas relações empregador/empregado.
Claro está que, ainda que a esmagadora maioria dos trabalhadores tenha estado de greve, alguns houve que não a fizeram (direito que lhes assiste inalienavelmente), que tudo ou quase fizeram para minimizar os efeitos da greve dos companheiros (atitude ética discutível a vários níveis) e que dos seus actos procuram retirar proveitos pessoais junto do empregador (atitude condenável, já que o seu benefício aconteceu à custa dos actos dos demais).
Mas, deixando de parte as atitudes dos “amarelos” ou “fura-greves”, certo é que três dias de greve e de descontos no salário é algo que muitos não podem fazer sem sérias repercussões no seu orçamento. Principalmente os que auferem salários mais baixos.
Mas sendo que os nossos horários de trabalho são díspares, 24 horas por dia e sete dias por semana, gente houve que, desses três dias de greve, esteve de folga um ou dois. Donde, não lhe foi descontada a jornada de luta.
Propus eu a companheiros que esses, os que não seriam alvo de tantos dias de desconto, pusessem o valor desses dias num “saco” comum para ser equitativamente distribuído por todos, para que o impacto económico em cada um fosse minorado.
Fiquei siderado com uma resposta que obtive, por sinal de um dos que mais auferia no meu grupo de trabalho:
“Olha lá! Estás com problemas de dinheiro? Faz como eu e vai ao banco pedi-lo!”
Estive para lhe perguntar se o emprego paralelo que tinha não lhe estava a pagar o que devia ou se não tinha olhado com atenção para os horários e constatado que eu estava no grupo dos que estava de folga nesses dias. Não o fiz. E o saco comunitário nunca se constituiu. Ainda que, mais tarde, eu tenha emprestado (dado) algum a um mais aflito.

É esta história importante? Não creio!
Mas serve para demonstrar que são, em regra, os que mais têm os que menos solidariedade demonstram, por palavras ou por actos concretos.
Em tempos, escrito num muro entretanto derrubado e hoje ocupado por um hotel em Lisboa, estava a seguinte frase:
“O operário que nada tem, tudo pode arriscar, que nada pode perder.”


Texto e imagem: by me

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