segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Uma prenda inestimável



Faça-se uma experiência engraçada:
Em vendo alguém a consultar um relógio, espere-se até que este seja guardado ou ocultado e pergunte-se as horas a quem ele olhou. As mais das vezes terá que haver nova consulta, que o inquirido não saberá responder de cor.
Acontece isto porque se olha para um contador de tempo, não para saber o seu valor absoluto, mas antes para saber quanto tempo falta ou passou para ou sobre um dado momento. Se estamos atrasados, se demora muito, há quanto tempo se faz determinada tarefa…
Dizer ou memorizar que são tantas horas, tantos minutos e tantos segundos mais não é que assinalar um instante e relativizá-lo com o passado ou futuro.
E o tempo, o que foi e o que será, é algo que me interessa. Até porque, e para usar uma frase de um amigo, um fotógrafo é um taxidermista do tempo.
Seja como for, tenho diversos aparelhos de medir o tempo. Variadíssimos mesmo, e creio que para a colecção ficar completa em géneros, me faltam apenas um relógio de cucu e uma clepsidra. O primeiro é uma questão de encontrar um que me agrade e que se enquadre no meu orçamento. O segundo é bem mais difícil, já que nunca vi nenhum à venda.
Mas de entre os que tenho, alguns são realmente incomuns: um relógio, de mesa, triangular; uma ampulheta tripla; um relógio, de parede, com cinco indicadores horários… Este último, e em estando calibrado para tal, é particularmente útil caso queiramos saber que horas são, por exemplo, em Timbuctu, o que acaba por ser prático caso queiramos mandar para lá alguém, pelo seu pé ou encaixotado em madeira.
Igualmente incomum é este relógio de sol de bolso. Claro que de pouca serventia terá de noite e, em dias encobertos como o de hoje, torna-se frustrante saber se já serão horas de almoço. Para isso, tenho que recorrer ao meu relógio biológico e consultar o meu estômago.
Mas a peça mais rara é um calendário de mesa.
“Rara?? – dirão alguns – Mas isso é banal!”
Pois será, mas trata-se de uma oferta de quem o desenhou e concebeu, o que já de si o transforma num objecto de afectos.
Fala-me ele, na sua organização do tempo, do ano que aí vem: 2011. Doze meses, 365 dias, 52 semanas… o normal. Indo mais longe, e querendo  ajudar na previsão sincopada do futuro, mostra-nos os primeiros dois meses do ano seguinte. Prático e habitual.
O que já não será tão prático nem habitual é ter sido previsto que o mês de Fevereiro de 2012 terá 30 dias. Incomum e à margem de todas as regras e convenções. O mais que se lhe atribui são 29 dias, e só de quando em vez.
Disse-me quem mo ofertou e concebeu que se tratou de um erro. Tal como será a opinião de todos quantos o manuseiem. Mas não a minha!
Tenho para mim que se trata de um acto de rebeldia e de criatividade. De generosidade mesmo, como é apanágio de artistas. Uma oferta de um dia extra para todos nós é, sem sombra de dúvida, uma prenda original e inestimável. Creio que nem mesmo o velho Nicolau se lembraria disso.
Obrigado por tal lembrança e espero goza-lo lembrando-me de quem mo deu.

Texto e imagem: by me

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