domingo, 5 de dezembro de 2010

Desculpem lá o grão!



Se quiserem, usem-no com bacalhau que é bem bom.
Mas que pode fazer um pobre photocronista ou cronophotógrapho para matar o tempo numa urgência hospitalar? Para além de ver e ir “registando” as estórias enquanto os exames regressam (no caso, chumbei em todos), restará trazer alguns fotões sob a forma de electrões captados com aquilo que trás no corpo, de preferência sem pôr ninguém em cheque, que num espaço destes já basta a total ausência de “intimidade” perante os profissionais que ali vão dando o seu melhor.
E, das muitas estórias que ali anotei e memorizei, uma há que não me sairá da memória certamente:
Neste hospital existem duas urgências: uma para casos mais leves como o meu (e de muitos outros que ali estiveram e estarão) e uma outra para casos bem mais graves, em risco de vida.
Pois uma ambulância houve que, na pressa de fazer chegar a bom socorro alguém em paragem cardio-respiratória, o “entregou” onde eu mesmo estava.
Claro que foi o pandemónio ali dentro, com os técnicos de saúde nas suas diversas categorias, a fazerem o que podiam e o protestarem contra o engano na porta. E, enquanto o faziam, chamaram os mais habituados a tais casos, da outra secção.
Por mim, que estava naquele compasso de espera até virem os resultados, vim cá para fora em busca da minha dose de nicotina e, de caminho, ser um a menos no corredor a atrapalhar.
Passado um bom pedaço, já eu tinha regressado ao calor confortável da apinhada sala de espera, vejo passar uma das auxiliares que tinha estado envolvida no caso daquele doente. Achei-lhe algo de estranho e vim na sua peugada e fazer como ela, fumar um cigarro.
O que eu não fiz foi ir para o mesmo canto escuro e, junto com a fumaça, engolir as lágrimas que escorriam pela cara!
Quando mais tarde regressei ao corredor e esperei mais um pouco pela minha vez, atentei nas caras circundantes. Continuavam eficazes e diligentes como antes. Mas os sorrisos rareavam e, em surgindo, eram em exclusivo para animar um doente mais “em baixo”.
Pelo que entendi das pontas soltas de conversa que ouvi, onde quer que a ambulância parasse o desfecho seria o mesmo. Apesar disso, há coisas que nenhum profissionalismo consegue proteger por inteiro!
As outras estórias que vi e anotei? Que importância têm? Nem mesmo a minha!

Texto e imagem: by me

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