sábado, 13 de novembro de 2010

Vocábulos



Tal como a imagem (a fotografia, o cinema, o vídeo) e a bricolage, também a leitura sempre foi para mim um vício. Leio um pouco de tudo, com temas que me atraem mais que outros, e dependendo das fases que vou atravessando na vida.
Ele é no comboio, no café, nas pausas do trabalho, na cama, na secretária… em tudo quanto é lado (mais ou menos, entenda-se).
Quando acontece ir em trabalhos para fora de Lisboa, com a pernoita incluída, é garantido: do dinheiro que recebo de ajudas de custo sai um livro, mais um livro, com um destino bem definido: para ler à noite no hotel.
Regra geral um livro de bolso, de preferência daqueles que, se o sono apertar, não ficarei triste em demasia por apagar a luz a meio. A escolha costumava ser, à época deste episódio, na área dos policiais ou de ficção científica.
Uma ocasião, numa ida para Portimão, para um festival de folclore, fui à livraria do costume. Mirei e remirei os escaparates e estantes e todos os que por lá estavam, ou já os tinha lido, ou não gostava do autor. A indecisão era muita.
Eis senão quando os meus olhos caem sobre um título. Havia anos que não lia nada deste escritor (desde o liceu provavelmente) e disse para comigo: “levo-o! O pior que pode acontecer é não ter paciência para ele e ter que o acabar em Lisboa, mais tarde!”
Erro meu! Terminei-o na mesma noite em que o comecei, já ao raiar do dia. Foi de uma assentada! Até à última letra!
Analisado o caso, mais tarde, entendi o que se passava: A maioria dos livros que ia lendo então eram traduções, nem sempre fieis e, certamente, deixando um bom bocado a desejar no que diz respeito à qualidade literária do original.
No caso vertente, e se exceptuarmos a ortografia, seria igual ao original. E de qualidade!
As expressões, as comparações e imagens, o uso dos tempos verbais, adjectivos e advérbios, a fluidez das ideias fez com que aquela estória, que até que é fraquinha, seja um bom livro de bom português!
O título em causa é “Eurico, o presbítero” de Alexandre Herculano.

De então para cá, e já lá vão uns anos valentes sobre esta história, faço questão que boa parte do que leio seja de autores portugueses. Não por uma questão de patriotismo (Credo, que horror!!!!) mas antes para poder usufruir de todo o sumo original, sem corantes nem conservantes. E, se apanho à mão algum romance ou não em Inglês, Francês ou Castelhano, chego-me a ele.
E, para além do prazer de aceder às ideias sem intermediários, tenho um outro lucro: vocabulário. Por vezes rebuscado, por vezes redundante, nem sempre o mais correcto ou fácil de aplicar, mas são mais palavras, em que somos tão ricos, que aprendo.
Talvez por isso o que por aqui não falta sejam dicionários, os clássicos ou não tanto como o do calão ou o do insulto, ou o dos gestos ou o das cores…
Um destes dias farei um dicionário das palavras de que gosto!
Entretanto, vou namorando o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, editado pela Academia de Ciências de Lisboa. O seu tamanho e preço…

E, já que estamos quase na época, será que o Pai Natal está a ler isto?


Texto e imagem: by me
(propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)

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