quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fechado



E pronto! Quando as coisas que acontecem são fora do comum, mas sem grandes dramas, há que os criar. Os jornais não saem, as audiências não aumentam, o protagonismo não se obtém.
Está aí a cimeira da NATO. Em boa verdade, é a cimeira da OTAN, já que o seu nome, em Português, é Organização do Tratado do Atlântico Norte. A sigla NATO é a sua versão Inglesa.
Mas, neste caso, nem é a sigla ou o seu significado que interessa. O que aqui é importante é que em se juntando tanta gente “grande” quantas delas com grandes pesos na consciência (pessoal ou nacional) a questão da segurança vem à tona. E há que garantir não apenas a segurança de cada um dos participantes como também que possam reunir com a tranquilidade possível para fazerem o que querem fazer. Pelo menos é a decisão institucional sobre a questão.
Daí que ruas cortadas, acessos condicionados, alterações no uso do espaço aéreo, toda a polícia de prevenção… Tudo por conta das manifestações (autorizadas ou não) contra a dita cimeira e os seus participantes.
E os jornalistas, há falta de melhor já que pouco sabem sobre o que os presentes irão dizer ou pensar, debruçam-se sobre a questão da segurança.
Durante todo o santo dia ouvi dizer que as fronteiras portuguesas foram reinstaladas e que quem quer que as atravesse vindo do exterior terá que ser identificado. E, em caso de suspeição ou irregularidade, serão detidos para averiguações.
Mas que tamanho disparate andam os escribas e arautos da desgraça a badalar aos quatro ventos!
As fronteiras do País nunca foram extintas! Existem, bem delineadas, tanto em terra como no mar e no ar. Aquilo que tem acontecido, e ao abrigo do Acordo de Schengen, é a ausência sistematizada do controlo de fronteiras. Aqueles que pertencem ao Espaço Schengen podem circular por todo ele sem restrições, cruzando as fronteiras dos Países membros sem a obrigação de se identificarem. Mas todos os cidadãos não pertencentes aos Países subscritores deste acordo continuam a ser identificados ao cruzarem fronteiras. E a terem visto ou autorização para tal e a serem impedidos de o fazer na sua ausência.
Aquilo que agora está instalado, por via da tal cimeira e das medidas excepcionais de segurança, é o retomar temporários do controlo sistemático de fronteiras, com a consequente identificação de todos os que a cruzam e demais diligências.
Mas, claro, dizer que foi reactivado o controlo de fronteiras é bem menos explosivo, dramático, sonante, que afirmar que as fronteiras foram reinstaladas.
Reinstalar o que nuca foi abolido não é um disparate?


Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)

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