sábado, 23 de outubro de 2010

A dúvida


Confesso que, quando aqui cheguei, fiquei na dúvida sobre o que mais gostava. Ou o que mais importante era: Se as rosas encostadas à fachada de um prédio modesto num bairro igualmente modesto, se a cortina na janela que pudicamente impede que se veja o interior mas permitindo a quem lá esteja desfrutar do que plantou e cuidou.
O que me levou a decidir foi uma conversa.
Quando ali cirandava, deliciando-me com os roseirais e tentando fotografar apesar da luz não ajudar, fui, à passagem, interpelado por um velhote. Pela idade já reformado, e com trajes a condizer com o bairro, soube afirmar, em tom de pergunta, se elas eram realmente bonitas. E quando o confirmei, até porque verdade, acrescentou, em tom de convite e com um sorriso de orelha a orelha, que haveria de lá ir pela primavera, que então veria o que é uma beleza de jardim, com tudo florido e de diversas cores e formas. Rematou, cheio de orgulho, com um:
“Sabe, somos nós aqui que cuidamos disto, ainda que o terreno seja da câmara.”
Entendi a cortina. E as cadeiras, desirmanadas, junto a uma sebe. E as paredes limpas de graffitis, apesar do bairro. E os caminhos arranjados. E a ausências de carcaças automóveis. E…
E mais que da flor, bonita que é, gostei da cortina!


Texto e imagem: by me
(Propositadamente, este texto foi escrito à revelia do novo acordo ortográfico)

1 comentário:

Grito disse...

LOL!
Compreendo.
No bairro de meus avós também eram os próprios que cuidavam dos jardins, ainda que o terreno fosse da câmara.
Gente de outro tempo, gente trabalhadora que veio do interior do campo, que até precisa de meter a mão na enxada, mexer na terra, sentir o seu aroma e fazer crescer algo... :)

Yap, neste caso, a cortina rendada, que acho linda, é, de facto, a chave para a rosa do jardim...