domingo, 22 de agosto de 2010

Libelo


As actuais estruturas de ensino são, na sua essência, desonestas!
Violenta a afirmação? Eu explico:

Diz-se que o aluno (estudante, aprendiz) deverá sair da escola com um conjunto de saberes e competências bem definidos. Durante todo o percurso escolar, é o aluno (estudante, aprendiz) submetido a avaliações sobre essas aquisições, onde lhe vai ser dito se se ficou pelos mínimos, se aquém ou além deles. Se passou, se ficou num dos lugares cimeiros ou se chumbou.
Mas o papel do professor não é ensinar. Não é, do alto da sua cátedra, despejar o conhecimento, usando para isso técnicas standard, e esperar que tudo isso tenha ficado na cabeça dos alunos (estudantes, aprendizes).
O standard, o padrão, as medidas e técnicas universais são funcionais quando falamos de parafusos ou barris de petróleo. Ao entrarmos no campo do ser humano, existem tantas medidas e padrões quantos os indivíduos considerados. E a capacidade de aprender de cada um é tão diversa quanto uma estrela de outra.
Daí que, e para que os alunos (estudantes, aprendizes) obtenham os saberes e competências previstos, há que trabalhar com cada um deles enquanto individuo e não com cada um deles enquanto elemento de uma turma ou sistema de ensino padrão.
É assim que o professor não deve ensinar mas antes ajudar a aprender. Usar do tempo e esforço necessários e suficientes para que cada aluno (estudante, aprendiz) não se fique pelos mínimos mas antes atinja o pleno. Porque é para tal que lá estão e é isso que esperam. Aprendiz (aluno, estudante) e professor.

A avaliação, enquanto elemento do processo de aprendizagem, é importante, mas perigosa.
Nos moldes actuais, mede as competências adquiridas pelos estudantes (alunos, aprendizes) dentro dos valores padrão, colocando-os nos pelotões da frente, do meio ou de trás. E fica o assunto resolvido.
Nos aprendizes (alunos, estudantes) em que os resultados são medianos ou abaixo deles, fica a sensação de frustração, a quebra da auto-estima, a rebeldia contra o sistema que não reconhece o seu esforço em aprender, por comparação com outros. Que com facilidade atingem a excelência.
E, com isto, estamos a preparar cidadãos plenos, ex-alunos (ex-estudantes, ex-aprendizes) que se auto-nivelam pela mediania ou por baixo, orientados e classificados que foram assim durante 15 ou 20 anos da sua vida.

A avaliação (testes, trabalhos, orais) avalia de igual forma o trabalho de quem aprende e de quem ajuda a aprender. Porque um professor não deve ensinar mas antes ajudar a prender.
Se os objectivos deste trabalho de conjunto falham ou ficam-se pela mediocridade, se o mais novo dos dois se fica pelos mínimos ou aquém deles, pelo menos metade do trabalho, o do mais velho, foi deficiente.
Não usou do tempo e trabalho suficientes para que a equipe terminasse com satisfação.

Uma avaliação escolar bem concebida deverá ser construída não em função da mediania dos alunos (estudantes, aprendizes) mas antes em função do binómio aluno/professor. E se, num teste ou prova de avaliação escolar, cada aluno é avaliado uma vez por um professor, cada professor é avaliado por cada um dos alunos (estudantes, aprendizes). E se o resultado de uma turma se fica pelos mínimos ou lá perto, o professor é apenas sofrível no seu trabalho de ajudar a aprender.

No actual sistema de educação (e como este termo educação é odioso!), tenta-se combater o insucesso escolar. Não através do incremento dos métodos de aprendizagem e do investimento do sistema em cada aluno enquanto individuo, mas através da descida dos níveis mínimos e da satisfação da sociedade quando eles são atingidos. A diminuição dos chumbos ou reprovações.

Acrescente-se que avaliações mal concebidas, analisadas ou baseadas num mau trabalho de um professor podem condicionar negativamente o futuro daqueles que estão a ser avaliados. É demasiadamente importante para ser feito de ânimo leve!

É por isso que afirmo que o actual sistema de educação ou ensino é desonesto!
Os estudantes (alunos, aprendizes) não passam por ele aprendendo a fazer perguntas e a ter dúvidas mas antes a serem formatados por métodos e programas padrão, moldados pela sociedade e não adaptados a cada um deles. Os alunos são considerados como matéria-prima como farinha numa padaria.
Não são consideradas as características individuais e o percurso de cada um. Nem são satisfeitas as expectativas de sucesso que cada um tem!

Durante o tempo que estive ligado a escolas profissionais, a minha maior satisfação foi ver o brilho nos olhos daqueles com quem estava a trabalhar provocado por um “já percebi” e logo seguido de dúvidas e perguntas sobre a continuidade do trabalho que vínhamos fazendo.
E um orgulho tremendo de, querendo ir sempre mais e mais longe com eles, nunca ter reprovado um só que fosse.


Texto e imagem: by me

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