sexta-feira, 23 de julho de 2010

O sargento


Os antigos postos da caixa, hoje centros de saúde, são um cadinho de impaciência e de mau humor.
Quem a eles se dirige são doentes, a quem ironicamente se chama de “pacientes”
São pessoas que padecem de algo, visível ou não, cujo incómodo, dor ou sofrimento não se compara nem mede: todos entendem que o seu problema é grave.
O primeiro embate nestes locais é feito com os administrativos. Ouvem o pedido, seguem as regras do sistema e aturam a impaciência ou imposições dos pacientes. E há que ter paciência para aturar a impaciência dos pacientes.

Um dos métodos usados é o do “sargento lateiro”.
Voz ríspida, instruções secas, conversa reduzida ao mínimo. Não que se trate de mau humor, agressividade ou antipatia. É, as mais das vezes, uma forma de colocar método naquela pequena multidão que espera vez com a impaciência própria de um paciente. E é uma defesa para não se deixarem influenciar pelos argumentos, nem sempre os mais simpáticos ou cordiais, que podem ouvir, e ouvem pela certa, que paciência é uma coisa que não abunda por aqueles lados.

Com a senha numerada na mão, esperei pela minha vez. Lá ia ouvindo a voz do “sargento” feminino que, da sua secretária, ia chamando pelos números.
Quando ouvi o anterior ao meu, levantei-me e aproximei-me da porta de acesso. Sempre se poupa uns segundos e uns atropelos. Quando chamou pelo F12 que eu tinha na mão, cheguei-me à frente e disse ao que ia. O tratamento que recebi foi o padrão, nem bom nem mau. Padrão!
Lá me pediu os documentos, que já levava na mão, foi escrevendo no teclado e, na altura devida, pediu-me os dois euros e cinco cêntimos da taxa moderadora.
Despejando o porta-moedas na mão, constatei que os tinha e trocadinhos em moedas pequenas. E dei-lhe a minha frase, também padrão, destas circunstâncias: “Se lhe der trocado, não me faz desconto?”
O sargento desapareceu e vi-lhe um sorriso que não sei se mais alguém terá visto naquela manhã naquele posto de saúde.
Quando, já a guardar a papelada, lhe perguntei se teria tempo de ir fumar um cigarrito à rua, disse que daria para dois ou três e sorriu de novo.
Mas antes de tornar a vestir a “farda de sargento”, ainda me pediu desculpa por ser assim à pressa, mas que havia tanta gente para atender… E gritou lá para dentro: “Senha F13!”

“Quem vê caras…”


Texto e imagem; by me

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