segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Do uso de um banco e de uma marreta


Ouvi-os antes de os ver, que não é possível ignorar a sua sirene. Menos ainda se ecoa nas paredes velhas de ruas estreitas.
Quando passaram por mim, para além dos depósitos cheios constatáveis pelo peso aparente, era bem notório que estavam preparados para o pior: vestidos e equipados para fogo!
E se fogo é sempre mau, em prédios velhos e ao fim do dia não é melhor. Menos ainda se se tratar do Chiado, em Lisboa, onde incêndios são de muito má memória.
Pois este carro, que lutou contra o estreito das ruas e o trânsito congestionado, ainda teve que se debater com esta manobra difícil: carros mal estacionados!
O carro de bombeiros que aqui se ilustra demorou bem noventa segundos, uns longuíssimos minuto e meio, para conseguir passar entre o que, à direita, ocupavam o lugar de estacionamento devido e os que, à esquerda, se repartiam entre o ocupar o passeio dos peões e o asfalto das viaturas. E com a lamentável perícia do motorista e a ajuda prestável de um transeunte solícito, foi possível passar sem tocar em chapa ou arranhar pintura.
Sei que estamos em época natalícia, em que se espera paz na terra aos homens de boa vontade e tolerância para com os outros. Mas como é possível ser-se tolerante quando o egoísmo de uns quantos põe em risco a vida de muitos? Como é possível ser-se tolerante quando se constam situações destas ao mesmo tempo que se vêem agentes policiais particularmente preocupados em fiscalizar as licenças de vendedores ambulantes e se o que vendem é ou não contrafeito?
O caso agora relatado acabou por ser apenas um alarme de incêndio avariado. Para tranquilidade de todos. Mas como seria se não o fosse e houvesse que pedir reforços, com carros de incêndio maiores e menos manobráveis?
Quando, uma meia hora depois, os soldados da paz embarcaram de novo no camião, apagaram as luzes de emergência e regressaram ao quartel, eu mesmo arrepiei caminho, descendo de novo esta rua. E constatei que alguns destes carros mal parados tinham sido brindados com o autocolante do “Passeio livre”. Que só pecavam por insuficientes.
Que a minha vontade era passar por uma loja de ferragens, que ainda estariam abertas, e regressar com uma marreta e um banquinho. A marreta para fazer na chaparia destes automóveis o que o carro de bombeiros não havia feito; o banquinho para que eu mesmo pudesse esperar sentado pelo regresso dos seus donos e explicar-lhes o ocorrido. E, em caso de dúvidas ou teimosias, usar do banquinho ou mesmo da marreta na cabeça dura que protestasse.


Texto e imagem: by me

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