quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Fruta da época


Já não sei quem mo contou, mas tenho-o por verdadeiro.
Entre o cérebro e o crânio existem várias membranas separadas entre si por fluidos. Serve este conjunto de protecção ao recheio da caixa craniana, evitando as pancadas que o cérebro pudesse fazer no osso, ao mesmo tempo que funciona como isolador térmico. Ao que parece, a massa cinzenta, para além de energia eléctrica, também usa energia térmica, e esta tem que estar bem dentro de parâmetros rigorosos.
Acontece que em havendo um golpe de calor ou frio na cabeça, provoca-se uma inflamação nessa protecção, originando uma produção extra dos ditos fluidos para regular a temperatura.
Mas sendo o crânio rijo e indeformável, este excesso de volume iria provocar compressões no cérebro, o que prejudicial como se imagina. Daí que os fluidos em excesso acabam por sair naturalmente por onde a natureza indicou: o nariz. Uma espécie de válvula de segurança.
A todo este processo chamamos nós de “constipação” e é a fruta da época que atravessamos.
Acontece que quando me constipo deixo de ter nariz. Este transforma-se em duas torneiras mal vedadas, sempre a pingar e, por vezes, em fio contínuo. A tal ponto que já não há força para fungar, o nariz fica hiper-sensivel de tanto assoar e os olhos, esses coitados, mirram e viram vermelho molhado. Uma lástima.
A isto acrescente-se que quem me cerca não fica particularmente satisfeito por ter perto de si um eterno fungão, aos espirros, muitos e fortes.
Em regra, trato a situação com medicamentos, que fazem o que têm a fazer dentro dos prazos previstos, ou seja, ao fim de alguns dias. Mas até lá, a coisa é complicada.
Pessoal, social e profissionalmente!
Imagine-se uma sequência romântica, e que o galã se ajoelha junto da sua amada e lhe faz a sua declaração de amor eterno. E que, junto com as palavras e suspiros que ambos proferem e deixam escapar, se ouve as fungadelas de um operador de câmara!
Talvez que um humorista pudesse pegar na ideia e fazer uma excelente cena cómica. Mas a vida real nem sempre é assim tão divertida!
Por mim, encontrei um expediente de recurso, como é apanágio dos portugueses:
Enquanto os medicamentos não fazem o seu efeito, mantenho-me a fungar e assoar durante as preparações técnicas e ensaios. No momento das gravações, entupo as narinas com dois valentes pedaços de algodão, servindo de tampão ao que de lá saia.
Não é cómodo nem bonito de se ver, mas o público fica na ignorância de haver um técnico com uma valente constipação.

Texto e imagem: by me

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