sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Num outro tempo


Foi num outro tempo, numa outra rua, com um outro automóvel.
Aquela minha vizinha tinha um horário de trabalho invertido em relação à maioria das pessoas que ali moravam: Saía para o trabalho já quase todos tinham regressado e chegava casa quando os parqueamentos estavam desertos.
O seu carro, bem mais pequeno que este que aqui se vê, era estacionado ainda mais ao arrepio das marcas no chão que este exemplo. A tal ponto que a vizinhança, em chegando a casa, protestava contra ela ocupar três lugares, ao invés de um só como seria de esperar.
Uma manhã, ia eu a caminho de um cafezinho, e dou com a dita viatura. E, ainda que nada fosse comigo, entendi que poderia e devia fazer algo. Rapando de um bloco de notas, deixei-lhe um bilhete preso no limpa-vidros com uma recomendação ou pedido de boa vizinhança e respeito para com quem queria usar o estacionamento. Um pouco paternalista, talvez, mas a não deixar dúvidas sobre o incómodo que causava ali na rua.
Não mais esse carro ficou mal parado. A tal ponto foi, que fiquei convencido da utilidade do meu bilhetinho. Como eu me enganava!
Uns meses depois, em conversa no café, veio a estória à baila. E ficou um vizinho espantado por esse bilhete ter sido escrito por mim. É que, contou ele, nesse mesmo dia tinha encontrado todos os lugares ocupados, incluindo os três daquela senhora e, para alem de chateado e de ter lido o papel, achou que ele não chegava e esvaziou-lhe os quatro pneus. Medida radical, convenhamos, mas que terá servido de lição àquela minha vizinha.
Fiquei eu a salvo de uma qualquer resposta do mesmo nível, que não assinei o recado. Quando não, sobrariam para mim as consequências do que não havia feito.


Texto e imagem: by me

Sem comentários: