sábado, 8 de agosto de 2009

Olhares contraditórios


E de quem são estes olhos atrás dos óculos? Nem desconfio!
Nem sequer sei qual a sua nacionalidade, que lhe perguntei, acenando com a câmara: “Posso?” e ela sorriu e acenou que sim.
Com um vestido de verão bem curto, calçando botas de cano alto, meio escondia-se atrás de um cavalete, onde pintava uma paisagem da cidade de Lisboa. Em boa verdade, o mais difícil para o fazer é escolher o local, que toda ela se propicia a tal. Pelo que está, pela luz, pelas perspectivas… Toda a cidade se presta a ser retratada.
O difícil de encontrar é quem se disponha a fazê-lo com tintas e pincéis, que não cão nem gato que não se passeie com uma câmara na mão. Nem eu mesmo a tal escapo.
O que pintava? Umas escadinhas, encimadas pelos clássicos pilaretes de pedra e ladeada de prédios, alguns anteriores ao grande sismo do séc. XVIII.
Mas, bem mais incomum que tudo isto, era a figura masculina que fazia de modelo, sentado no topo das escadas, de costas para ela. Que segurava o que parecia ser um bloco de notas mas que, um olhar mais atento, revelava ser um E-Book.
Numa cidade velha alguém renega as electrónicas e retrata alguém com elas na mão.


Texto e imagem: by me

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