domingo, 26 de abril de 2009

A culpa é nossa!


A culpa é nossa!
Veio o Presidente da República, no seu discurso alusivo ao 25 de Abril, exortar os partidos políticos a intervirem mais e mais construtivamente na vida portuguesa. Na prática, o que ele quis dizer é que teriam que ser mais úteis e deixarem-se de apenas se oporem uns aos outros e de procurarem um lugar no poleiro do poder.
Não que eu acredite em que esta pessoa tenha sido sincero. Principalmente sabendo que esta mensagem veio de alguém que afirmou, estando no tal poleiro do poder, que “Nunca me engano e raramente tenho dúvidas”!
No entanto, neste caso, o homem tem razão. Toda. O que não definiu foi a origem da necessidade deste pedido ou alerta. E esta está em todos nós.
Está naqueles que fizeram a revolução, há 35 anos.
Que terminaram com uma ditadura, com um sistema de partido único.
Que permitiram a liberdade. De actos e de pensamentos.
Que permitiram que as opiniões se pudessem organizar e serem escolhidas como as melhores por parte de cada cidadão. Democracia.
No entanto…
No entanto os cidadãos a quem foi dada a possibilidade de viverem em liberdade e democracia distanciaram-se delas!
Atribuíram e atribuem aos partidos e seus representantes as tarefas de gerir e governar o país, e não mais os cidadãos eleitores intervêm.
Acontece que o poder entregue e não fiscalizado por parte dos eleitores é perigoso. Perigoso por que, e estamos a constatar isso mesmo nos tempos que correm, os candidatos são-nos mais por acesso ao poder que por vontade de serem úteis aos seus concidadãos. E os que já lá estão (poder central ou autárquico) fazem tudo o que podem para de lá não saírem. Tanto uns como os outros, ao apresentarem-se ao eleitorado, mais que programas concretos de sociedade e de projectos de futuro, limitam-se a prometer aquilo que o bom-senso sabe não ser realizável (e a prática o tem demonstrado). Tão ou mais grave que isso, boa parte do jogo eleitoral é praticado com ataques aos adversários. Os candidatos passam mais tempo a afirmar o quanto os outros são maus que a dizerem o quanto os seus projectos são bons.
No meio de tudo isso, os cidadãos deixam-nos lutar a seu bel-prazer e, no dia de eleições, apenas fazem uma cruz como se de totobola se tratasse. E durante todo o restante tempo, pouco fazem para que as suas vontades sejam ouvidas e consideradas. Ou fiscalizar o trabalho dos eleitos.
Na prática, e visto que o acesso ao parlamento apenas pode acontecer por membros de partidos políticos ou por eles indicados, o poder em Portugal, o poder de o gerir, está dependente de organizações privadas – os partidos políticos. E estes, corporativamente, mais não fazem que ignorar todo e qualquer movimento ou opinião não coincidente com o que eles mesmos pensam.

Quando, há 35 anos, aconteceu a revolução, sentimos todos que o futuro estava nas nossas mãos e que havia que o construir. Falhámos!
Construímos, em nome da democracia e liberdade, um sistema que nos usa e cujos interesses não são os nossos mas apenas os dos partidos.
Talvez seja altura de repensarmos o nosso sistema de governação. Se continuamos a usar este gasto e estafado ou se partimos para outro. Porque este está falido! Cabe-nos retomar o futuro nas nossas mãos e reconstrui-lo.


Texto e imagem: by me

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