segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O fim de um fotógrafo


Já o conheço vai para dois anos.
Nunca quis posar para o meu artefacto, mas elogiou-o e identificou-se como mestre no mesmo ofício.
E fui-o vendo, de quando em vez, a passear o cão, com a sua Nikon F pendurada no ombro, sempre com a 50 e pára-sol de metal, como já é raro de encontrar. E sempre de colete, uma espécie de uniforme dos fotógrafos de reportagem, dos tempos em que ter uma objectiva a jeito, ou logo ali à mão um rolo de reserva, fazia a diferença.
Em qualquer dos casos, fui deixando de o ver, melhor, já nem me lembrava da sua existência, de tantos são os que por ali passam. Mas hoje tornei a dar com ele, e num local insuspeito. Confesso que o reconheci mais pela câmara e pára-sol que pela expressão.
Foi num restaurante-café que decidi experimentar para o almoço. Enquanto tomava a bica final, apercebi-me da sua presença e do motivo de já quase não ir ao Jardim: o homem sofre agora, moderada mas notoriamente, da Doença de Parkinson!
Consigo imaginar o seu sofrimento acrescido! Para além de todos os males que lhe estão associados, já não poderá fazer uma fotografia que não seja tremida, oscilando ao sabor da sua falta de controlo muscular! E o que custará isto a alguém que toda a vida se bateu por imagens nítidas e firmes!

Quando perdi a quase totalidade do uso da vista direita, passei mal. Que a noção de distâncias desvaneceu-se e levei muito tempo a saber viver com isso e a encontrar substitutos úteis.
Mas confesso que não sei como reagirei no dia em que me encontrar nesta situação, em que, de todo, não puder dar uso a uma câmara fotográfica!


Texto e imagem: by me

1 comentário:

Anónimo disse...

Felizmente, há tripés e disparadores temporizados.

bispo