quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Sem nome


Tenho que admitir: não sou consumidor de telenovelas!
Sei que este produto televisivo tem grande popularidade e alimenta boa parte da indústria televisiva, tanto na produção como na publicidade.
Mas também tenho que aceitar que eu mesmo tenho bastante mais que fazer com a minha vida que viver, dia após dia, os sonhos dos outros. E ter que ficar amarrado a esses sonhos, com algum dose de frustração se perder um detalhe que seja ou andar atrás das revistas cor-de-rosa tentando antecipar a vida virtual do pequeno ecrã. Prefiro viver os meus próprios sonhos, com as minhas felicidades e frustrações, construindo o meu futuro com as minhas próprias mãos e ter o prazer de o ver acontecer e saber que é meu.
Os sonhos dos outros, procuro-os pontualmente, e quando quero, na literatura e no cinema, sabendo que têm um principio e um fim bem definido.
No entanto, tenho que aceitar que parte do meu pão advém da existência de telenovelas, já que é a publicidade que lhes está associada que paga parte do meu salário. E que as experiências que tive na produção de telenovelas foram enriquecedoras, tanto do ponto de vista pessoal como profissional.
Não há bela sem senão!

Apesar de tudo isto, e ainda que o que a seguir conto se passar na concorrência, por vezes fico arrepiado até à medula!
Venho a descobrir, através de um jornal, que está em fase de produção uma telenovela cujo enredo acontece em torno da tauromaquia. Ao que soube, um dos principais personagens é um forcado e o publico que seguir este trabalho terá oportunidade de ver estas actividades logo a seguir aos noticiários, em horário nobre.
Lamento ter que usar este chavão, mas as telenovelas são “telelixo”, com a intoxicação diária que provocam. Mas inserir numa a lide tauromáquica é transformar isso em “televeneno”! É equivalente a introduzir imagens subliminares nas séries e outros entretenimentos, é um lavar publicamente uma actividade que sabemos condenada e condenável. É um tentar tornar popular uma prática que vive do sofrimento de animais, à imagem e semelhança do que se fazia, faz já 2000 anos, com os condenados às feras.
Se, um destes dias, foi feita uma sentença judicial impedindo uma transmissão televisiva de uma corrida de toiros, com o argumento que se tratava de um espetaculo por demais violento para ser transmitido em horário acessível a crianças e adolescentes, passível de as influenciar negativamente, como é admissível que se tente branquear esta decisão e contornar o impedimento com o pintar de cor-de-rosa o sangue dos bovinos que escorre das farpas espetadas no lombo?

Se as telenovelas são lixo e as corridas de toiros são crueldade, aliar ambas que nome pode ter? Deixo ao vosso critério o inventar o termo que a defina!


Texto e imagem: by me

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