quinta-feira, 5 de junho de 2008

O elo 3


Mas a questão dos índios brasileiros isolados no Amazonas profundo e o desejo das autoridades em os manter isolados do resto da humanidade pode ainda ter outra visão.
Generalizada a todas as culturas vigora o princípio do “livre arbítrio” bem como das regras e sanções. Por outras palavras, cada um (individuo ou grupo) é livre de fazer o que entende, desde que não infrinja as proibições, situação em que é objecto de punição. A sociedade não está organizada no sentido de dizer o que é bom ou positivo de fazer, ser ou pensar mas tão só no que é mau ou negativo de ser, fazer ou pensar. Rege-se pela negação!
Mas esta atitude de pseudo-liberdade é negada a este punhado de seres humanos que ali vivem. Nega-se-lhes a possibilidade de conhecerem como os seus semelhantes vivem (material e filosoficamente). Nega-se-lhes a liberdade ao impedi-los de acederem a todo o conhecimento disponível ao ser humano. Nega-se-lhes o livre arbítrio já que se os impede de poderem (ou não) viverem como nós mesmos vivemos.
Esta atitude de os ter fechados numa redoma (verde, neste caso) protectora, sob o pretexto de não os “contaminar” com a nossa existência, é, no fundo, uma atitude paternalista com base no conceito de que nós, os civilizados, é que sabemos o que é bom ou mau para eles.
Como se nós, os “civilizados”, possuíssemos todo o conhecimento do bem e do mal e, com isso, pudéssemos conduzir a humanidade (ou parte dela) a uma estádio superior ou melhor.
Com esta atitude de super-protecção e de definição de superior e inferior, sou obrigado a recordar-me do que aconteceu no passado, não tão distante quanto isso, com os Espanhois e Portugueses que, sob o pretexto de salvar as almas do paganismo, forçou a adopção do Cristianismo a todo o custo, mesmo pela força das armas. E, de caminho, ia negociando escravos e bens, que “Quem não é do nosso clã civilizacional, não é gente nem é nada!”
Violenta esta comparação? Pois será! Mas, na verdade, ao impedirem estas comunidades ao acesso aos restantes ser humanos, mais não estão que a criar prisões, sem grades e com muitos Km2, em que os contactos entre ambos os lados da “vedação” estão proibidos e quem está lá dentro não pode saber o que está cá fora.
Seremos nós, os “civilizados” tão bons que possamos decidir o futuro de uns poucos que nem de nós sabem, quanto mais terem-nos feito algum mal?
Não o creio!


Texto e imagem: by me

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