terça-feira, 17 de junho de 2008

Louca?


Tem cerca de quarenta anos e veste de uma forma colorida, desgarrada, excêntrica. É preta e, no seu périplo diário pelos corredores do shopping, pára em cada montra e porta.
Sorri para quem está e quem passa. E canta!
Não se percebe muito bem o que canta, nem a letra, nem a melodia. Mas canta e gosta de o fazer. O seu sorriso feliz, para dentro e para fora, assim o mostra.
Os passantes ocasionais estranham e sorriem, os lojistas riem de escárnio, os seguranças olham-na como se estivesse em vias de furtar algo ou escarrar no chão.
E ela, tudo ignorando, continua a sorrir alegre e amavelmente para quem passa e quem está, feliz não se sabe com quê.
Talvez apenas porque canta.
E depois vai-se, para sorrir e cantar noutras lojas e noutras ruas, cobertas ou não de telhas e seguranças, de preconceitos e ostracismo.
Fica o escárnio e a desconfiança. Porque é diferente. Porque canta e aparenta estar feliz. Porque fazê-lo sem ser num palco ou coreto, sem estar numa camisa-de-forças, é contra as regras e normativos.
Porque não se pode sair da normalidade sem que logo se trate de reconduzir o “prevaricador” ao bom caminho!

Se aqueles que franzem o cenho ou fazem chacota também cantassem e sorrissem, se formassem um grupo e, alegremente, saudassem quem passa com umas notas musicais no lugar de pedirem notas de banco…

Tem uma lâmpada fundida, dirão alguns!
Não!
Tem-nas é todas acesas de dia porque lhe apetece estar de bem com a vida. E dar luz mesmo quando não lho pedem!

Obrigado por nos mostrar quão loucos somos em não aproveitar o que nos cerca e sorrirmos com isso!

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