terça-feira, 24 de junho de 2008

Divertimentos dominicais


Como eu me divirto! Juro que me divirto à brava e só não solto sonoras gargalhadas porque isso iria diminuir o divertimento!
A maledicência e a necessidade que o ser humano tem de encontrar explicações para o que não sabe explicar ou sai do comum é muito divertido.
Sei que a minha presença no jardim da estrela é incomum. É incomum a minha figura, é incomum o meu artefacto, é incomum o que faço com ele.
Os menos tímidos ou os mais arrojados aproximam-se levados pela curiosidade e acabam por “meter conversa”. Alguns, os que menos têm que fazer na vida ou os que têm mais curiosidade por ela, para além da fotografia aproveitam para alimentar a conversa, tentando perceber, para além do exposto, quem ou o quê sou eu. Faz sentido!
Alguns, raros, assustam-se com a gratuitidade do acto e fogem. Será estranha esta reacção, se não considerarmos que nos seus passados possam existir acontecimentos que os levem a ter receio do que é gratuito ou ofertado. Contos do vigário, sistemas policiais, etc.
Mas outros, muitos, dos que me conhecem por ali, estranhando especulam! Com base no pouco que sabem, muito devem inventar, trocando entre si informações “fidedignas” que alimentam as suas imaginações.
E, neste fim-de-semana, ficaram com mais para as suas conversas de mata-tempo.

Foi ter comigo, para apreciar a função e dela fazer parte, uma amiga. Bem nova, foi com o seu filho de tenra idade no respectivo carrinho. E, em chegando, deixaram-se ficar por ali, sentados num banco próximo de mim, conversando nós como velhos amigos que somos, dividindo a nossa atenção entre os passantes, os parantes, a conversa e o pimpolho. Este com uma notória tendência em agarrar a minha barba e puxar, o que sendo divertido não é propriamente suave!
E era vê-las, às velhotas reformadas, ali em redor como borboleta com chama de vela!
Costumam sentarem-se em bancos dispersos, agrupadas às duas e três, em função das simpatias, dos temas de conversa, de quem chega e dos lugares que vão vagando.
Pois neste domingo assentaram arraiais nos bancos circundantes ao meu artefacto, em grupos de quatro ou mesmo cinco, mal cabendo nos assentos, que as suportavam com o estoicismo e a coragem de quem já está ali há mais tempo que elas têm de vida.
E elas já não conseguiam ou não queriam disfarçar: olhares assentes em nós de tal forma que nem reparavam em quem chegava ou partia, como seu hábito. Das conversas, pouco dava para perceber, que a distância não ajudava, mas os tons empregues e os gestos não davam azo a dúvidas. A coscuvilhice era o método e nós o mote!
Mas a cereja no topo do bolo aconteceu com um casal já conhecido, que ali apareceu e que quis ser fotografado. Não teve ele papas na língua e cedo tratou de perguntar se era minha a pequena. Fiquei na dúvida se se referiria à criança de colo e mama se à respectiva mãe que a embalava.
Tenho que admitir que esta curiosidade incontrolável, por parte dos “habituées” do jardim, me divertiu. A mim e à minha amiga, que o pimpolho não deu por nada. Mas pouco faltou para que desse, que só a vergonha impediu que alguma delas se levantasse e viesse sentar no mesmo banco para fazer tagatés na cabeça quase careca e, de caminho, tirar nabos da púcara.
Quanto ao resto, se esta visita que recebi serviu para que tivessem uma tarde de domingo mais entretida e feliz, sinto-me satisfeito. Mas fico à espera, com a certeza de não ser em vão, que de uma próxima vez em que me vejam me venham perguntar pela família.

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