sexta-feira, 20 de junho de 2008

A casa


Quando faleceu teria, suponho, mais de setenta anos. Eu deveria rondar os dez. O que, feitas as contas, nos diz que, se fosse vivo, o meu tio Artur teria mais de cem anos.
Os meus contactos com ele foram poucos, fruto de esporádicas visitas que faziamos. Mas de cada uma delas (ou do seu conjunto) guardo memórias indeléveis, algumnas das quais marcaram e marcam a minha vida e a minha forma de a ser.
Curiosamente, o detalhe mais importante que dele conheço, não o soube em primeira mão mas tão somente contado por outros parentes, que faz parte da história da família.
Na sua juventude estava de namoro sério com uma rapariga. Mas os entusiasmos e ardores da idade fizeram com fosse forçado a casar com outra pessoa. Os códigos sociais de então assim o obrigaram.
Mas o amor que tinha pela namorada era muito sólido e profundo e igualmente correspondido. Assim, esperaram que ele enviuvasse, já velho, para se casarem e serem, ao que consta, realmente felizes.
Acredito que em torno desta história se pudessem escrever romances “Best seller” ou rodar filmes campeões de bilheteira. Por mim, que não tenho nem arte nem meios para tal, fico-me com a fotografia da casa onde viveram e onde os conheci.
Mas... fará esta fotografia juz à história? Deveria eu ter esperado por melhor hora e luz? Ficaria melhor com gente a passar, para cima ou para baixo? Ou, complicando as coisas, deveria eu ter batido nesta porta e ter pedido autorização a quem lá agora vive para fotografar o jardim, que recordo com grandes e bonitas roseiras?
Há histórias que não são bem ilustraveis. E, ainda que os intervenientes tenham falecido há muito, o melhor será deixar as persianas púdicamente descidas.
E contentarmo-nos em saber que atrás delas viveu quem foi de facto feliz!

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