domingo, 11 de maio de 2008

Um lugar especial


Ainda não tinha começado o projecto há quinze dias.
Os jardineiros tinham andado por ali a regar e os bancos e a relva estavam molhados. Apesar disso, pediu-me que lhe fizesse uma fotografia em especial e lá encontrou um pedaço do banco onde se sentar sem se molhar. Mesmo em frente a uma árvore que ali está, no jardim da estrela.
Porque eu mesmo estava ainda a organizar as ideias e o como levar a bom porto o que tinha em mente, acedi a tão estranho pedido. E perguntei-lhe o porquê de ser junto à árvore. Disse que se tratava de uma árvore especial, onde vinha pedir auxilio e encontrar conforto na sua companhia.
Quando, após o clique, lhe perguntei pelo nome próprio e o ofício, sorriu-me e disse-mos, como se de alguma forma eu devesse sabê-los. Estava ligada ao mundo da música.
Mas sendo que o seu género daqueles que raramente consumo, ignorava por completo a sua existência e a sua carreira, ao que parece, em ascensão. Fiquei a saber pormenores mais tarde, numa busca na web.

Passados que são quase dois anos de actividade regular naquele espaço, confirmo o que me disse:
Com regularidade vejo-a passar, sempre com a sua mochilinha a imitar uma joaninha. Desce a rua que fotografo com passos rápidos e firmes, com os olhos postos na tal árvore. E, sem hesitar, senta-se aqui, no que parece um espaço feito para tal, e encosta-se ao tronco.
Nunca contei o tempo que ali fica. Uma meia-hora, pela certa. Mas quando a vejo de regresso, pelo mesmo caminho, o seu passo é diferente: mais elástico, tranquilo. E a sua expressão mais suave, sorridente, agradável de ver.

Não refiro aqui o seu nome.
Deixemos de reserva a identidade e o seu recolhimento que, nestas coisas de fé, cada um com a sua.
Mas deixo-vos o local: No Jardim da Estrela, lá para os lados do coreto, mesmo pertinho das roseiras da Galileia e do chafariz.
Se por lá passardes, e estiver vazio, aproveitai. Talvez que de lá possais sair com a tranquilidade que esta senhora demonstra no seu regresso.
Por mim, trago-a no saco, sob a forma de uma pedra. Com que brinco, mexo e remexo onde quer que calhe e me apeteça. E que no final me deixa, suponho, com um olhar semelhante ao dela. Ou ao vosso. Ou ao de qualquer um que encontre um pouco de paz consigo e com o mundo!

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