domingo, 3 de fevereiro de 2008

Pergunta-se


Pergunto, com a honestidade e, quiçá, a ingenuidade que aparenta a questão:

Como podem os governantes e os empresários esperar dedicação, empenho, competência, no desempenho da actividade profissional dos seus empregados (colaboradores, como hoje se diz).

Após três contratos a prazo, e apesar de terem dado o seu melhor, por vezes muito acima da média dos efectivos, são dispensados, colocados na lista dos desempregados. Isto, apesar de os quadros das empresas efectivamente necessitarem de gente, a tempo inteiro, para o desempenho daquelas funções. Não se trata de trabalhos ocasionais, de picos de actividade. Regularmente, todos os dias do ano, aqueles postos de trabalho têm que ser ocupados!
No entanto, por medidas economicistas, na frieza dos números, os assalariados são contratados, despedidos ou dispensados como se de consumíveis se tratassem. Mesmo após três anos de dedicação à actividade e à empresa, com prestações perto da excelência.
Perguntar-se-à: Irão estas pessoas, na empresa seguinte onde irão trabalhar, aplicar-se da mesma forma? Dar o seu máximo e melhor? Dificilmente, já que sabem que, sejam medianos ou muito bons, o resultado será sempre o mesmo: engrossar a lista dos desempregados!
E pôr-se-à também outra pergunta: Quem quer que venha ocupar o lugar deixado vago, irá aplicar-se por inteiro? Dificilmente, que, sabendo do que aconteceu ao seu antecessor, saberá pela certa da inconsequência dessa aplicação!
Pergunta-se, então: Como se espera que a produtividade, numa época de concorrência feroz, aumente? Aumente em termos quantitativos e qualitativos? Pois se as compensações são diminutas, se algumas, que adianta o esforço e a dedicação a uma actividade ou empresa? Principalmente quando sabemos que o mercado de trabalho está difícil, que as oportunidades de emprego são poucas e que, a cada dia que passa, os bens essenciais – alimentação, habitação, vestuário, educação – estão cada vez mais caros e de difícil acesso?

Na prática, o que está a acontecer é uma nova forma de escravatura. Sem grilhetas de ferro nem chicotes ou leilões de gente semi-nua.
Esta competição desenfreada por um posto de trabalho, pela garantia do sustento, levam os cidadãos dependentes do trabalho por conta de outrem a “comerem-se uns aos outros” e a aumentarem a diferença entre a compensação do seu trabalho e a mais valia que reverte a favor dos empregadores ou empresários.
E, na mesma linha, surgem novos mercadores de escravos, agora com o pomposo nome de “agências de emprego temporário”, fornecedoras de mão-de-obra barata e alimentando-se do esforço e suor dos demais.

E, entre empresários e contratados, pertencendo aos quadros e com a tranquilidade de que tem o seu futuro assegurado, surgem outros pequenos títeres que, aproveitando-se da fragilidade dos segundos, afirmam-se com atitudes ditatoriais, de assédio ou de descarga de frustrações pessoais e familiares.
Resta aos que são alvo destas atitudes indignas, apelarem à sua dignidade, pondo em risco a sua estabilidade e futuro económico. Ou venderem-se e humilharem-se para garantirem a si e aos seus uma existência no limiar da subsistência.
Porque, garantidamente, que não é com estas condições contratuais e de trabalho, que se pode viver. Apenas subsistir!


Texto e imagem: by me

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