quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Graffitis


Quem se passeie pelas ruas de Lisboa poderá encontrar, aqui ou ali, alguns graffitis com umas dezenas de anos.

Uns mais gráfica e ideologicamente trabalhados, outros mais simples e directos, são a manifestação pública mas clandestina de contestações juvenis ou políticas.
A sobrevivência maior ou menor destes libelos deve-se, sobretudo, ao cuidado ou interesse que os proprietários dos imóveis/telas têm sobre a imaculidade das suas paredes. Ou ao dinheiro que possuem para os limpar.

Há pouco mais de três anos foi a estrada de Benfica, em Lisboa, inundada por esta expressão: “MERDA”.
Ao longo dos seus mais de três mil metros, a olho, foram umas centenas de vezes as paredes maculadas com as letras e o protesto. Sem nada mais que o explicitasse, o seu autor foi-o repetindo nas fachadas ou nas empenas, bem virado para a rua ou em becos mais discretos.
O fenómeno, invulgar pela certa, chegou mesmo a ser alvo de uma exposição sobre o tema, algures lá mais para o norte do País, que entre o jocoso e o insólito, criou curiosidade.

Passados que são três Invernos, algumas eleições e alterações no município, sobrevivem ainda a maioria. A deixar ali, bem explícito em frente dos nossos olhos, aquilo que muitos de nós dizemos ou pensamos quando olhamos para a sociedade que nos cerca, para a lista de preços dos alimentos ou para a demagogia barata da classe política.
É exactamente isso que nos apetece dizer quando uma vizinha, brasileira, com quem poucas palavras trocámos para além do coloquial “bom dia”, nos aborda no elevador logo de manhã e nos pergunta se sabemos de algum trabalho para o filho, que ainda que tenha sido pasteleiro na sua terra-natal, aceita qualquer coisa com que possa ganhar a vida. Pois que nem para o bilhete de regresso conseguem poupar.

Acredito que este graffiti, minimalista, sobreviva por muitos e desesperados anos, que é dos mais expressivos e sempre actuais que por cá conheço!


Texto e imagem: by me

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